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A tecnologia censura conteúdos de saúde sexual e menstrual?

São muitos os temas relacionados com saúde sexual e menstrual que são censurados pelo universo das tecnologias. Será que as redes sociais estão a mudar?

São muitos os temas relacionados com saúde sexual e mestrual censurados pelo universo das tecnologias. Contudo, os media sociais têm estado cada vez mais abertos a abordar estes assuntos, promovendo a discussão em torno de temáticas como as dores menstruais ou as doenças crónicas

Qual o impacto da censura tecnológica no trabalho de empresas dedicadas à saúde feminina?

No início de 2021, a instituição de caridade Endometriose UK divulgou a informação de que alguns de seus seguidores não conseguiam fazer posts acerca das suas experiências como doentes com endometriose.

Sempre que eram usadas palavras ou hashtags como “endometriose” ou “menstruação”, era impossível avançar com a publicação. Posteriormente, esse impedimento deixou de acontecer, mas o que é facto é que ele é sintomático deste tipo de censura que atinge matérias associadas à saúde das mulheres.

Situação semelhante ocorreu com a plataforma de saúde feminina Daye, a qual viu, várias vezes, a sua conta de anúncios no Facebook bloqueada, devido à presença de publicidade a tampões e a probióticos vaginais.

Victoria Ilieva, responsável de marketing digital da Daye, relatou a este propósito: “Trabalhamos arduamente para garantir que os nossos produtos chegam às pessoas que mais precisam, como mulheres com endometriose ou dores crónicas. Para isso, dependemos muito da publicidade paga para aumentar o reconhecimento e o alcance da nossa marca e isso demora tempo até conseguirmos construir uma conta de anúncios bem-sucedida. Assim, quando a nossa conta é bloqueada, temos que começar do zero, o que atrasa o nosso crescimento.”

Hannah O’Donoghue-Hobbs, especialista em redes sociais explica que as empresas que trabalham este tipo de temas, correm maior risco de verem as suas publicações censuradas ou as suas contas bloqueadas. Por isso, precisam de ser criativas, de modo a encontrar formas de promoverem os seus produtos, sem que os algoritmos os detetem.”

O corpo feminino

No entanto, este problema da censura nas redes sociais é muito mais amplo, pois estende-se às próprias conversas sobre menstruação, roupas interiores e tudo o que esteja de alguma forma relacionado com a saúde íntima feminina.

Lucy Self, administradora do Save my Knickers, um removedor de manchas de sangue para roupas interiores, dá o seu testemunho sobre este assunto: “Usei clientes reais nos meus anúncios, embora tenha recortado as imagens para preservar as suas identidades. A ideia era mostrar corpos reais, sem qualquer conotação sexual. Contudo, o anúncio foi bloqueado, removido e marcado como inapropriado.” 

Para Lucy, tal não se trata apenas da censura das imagens, mas da própria proibição do uso de termos de saúde feminina. De acordo com ela: “Eu tive toda a minha conta de anúncios do Facebook encerrada devido ao Save my Knickers, por ser descrito como um removedor de manchas de sangue.”

É lamentável que a menstruação, algo que metade da população experimenta em algum momento da sua vida, continue a ser um tabu, censurado nas redes sociais. São diversas as marcas de saúde que só por exibirem o corpo feminino são erradamente sinalizadas como conteúdo sexual. Katie McCourt é exemplo disso mesmo. Ela é responsável por uma marca de roupa interior sustentável, ​​Pantee, e conta que: 

“Este é um problema com o qual lutamos desde o início. Lançámos uma campanha – a Revolução do Conforto – e ela foi completamente bloqueada, pois foi sinalizada como “conteúdo sexual”, em todas as nossas contas de anúncios, incluindo Facebook e Instagram. Nós, com o apoio da nossa comunidade, estamos a passar a mensagem de que  mulheres em roupa interior não é sinónimo de conteúdo sexual”. 

Esta censura, além de prejudicar as empresas de saúde feminina, também está a retirar às mulheres uma rede de apoio vital para as mulheres. A especialista em Instagram Estelle Keeber promoveu uma campanha com a hashtag #wma2021. Esta hashtag foi criada na sequência de tatuadores que queriam partilhar imagens de tatuagens da aréola mamária, realizadas em pacientes sujeitas a mastectomias, mas que se viram bloqueados e impedidos de responder a comentários ou a perguntas. 

Segundo Estelle Keeber: “Isto significa que as mulheres mastectomizadas que estão à procura de informação sobre estas tatuagens, não conseguem obter a ajuda de que precisam.”

Será o algoritmo do Facebook o culpado desta censura?

Sim, o algoritmo do Facebook tem uma influência grande nesta censura. Deasha Waddup, consultora de redes sociais, explica porquê: “As redes sociais estão muito baseadas em algoritmos. Logo, quando detetam termos como sangue, por exemplo, associam-no imediatamente a violência.”

Assim, apesar do algoritmo servir para proteger o utilizador, pode acabar por sinalizar publicações importantes para o utilizador como perigosas:

Hannah O-Donoghue-Hobbs afirma que: “Acredito que o algoritmo, embora altamente inteligente, simplesmente não tem a capacidade de tomar decisões diferenciadas, particularmente na área da saúde feminina.” 

Assim, parece ser necessário que, a par do algoritmo e do uso da tecnologia para filtrar e validar conteúdos, haja outros meios capazes de garantir que não seja silenciada matéria que nos ajuda a ficar a saber mais sobre os nossos corpos.

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