Squirting, mais formalmente conhecido como ejaculação feminina, é um dos aspetos menos pesquisados e mais controversos do prazer feminino.
Squirting, mais formalmente conhecido como ejaculação feminina, é um dos aspetos menos pesquisados e mais controversos do prazer feminino.
Foi registado na história há mais de 2000 anos como o fenómeno da ejaculação feminina, mas a sua existência é amplamente debatida.
Em 2010, a urologista Joanna Korda e colegas vasculharam traduções de textos literários antigos e encontraram várias referências à ejaculação de fluídos sexuais. O Kamasutra (escrito em 200–400 dC) fala de “sémen feminino” que “cai continuamente”, enquanto um texto taoísta do século IV, “instruções secretas sobre a câmara de jade”, distingue entre “vagina escorregadia” e “os órgãos genitais transmitem fluído.” Korda e seus co-autores argumentaram que esta última pode ser claramente interpretada como ejaculação feminina.
O que é squirting?
Uma pessoa com vulva emite líquido da uretra (de onde vem o xixi) em resposta à estimulação sexual ou ao orgasmo. O fluído parece água e é incolor e inodoro. Squirting é diferente de lubrificação vaginal ou corrimento (estar “húmido”), que é produzido pelas glândulas de Bartholin e segregado pelas paredes vaginais.
Todos podem fazer squirt?
A Sociedade Internacional de Medicina Sexual relata que 10% a 50% das mulheres ejaculam, mas que “a maioria não está ciente disso porque o fluído geralmente flui de volta para a bexiga em vez de para fora do corpo”. A quantidade de líquido no squirt difere muito de pessoa para pessoa. Pode ser quase imperceptível para fluxos de alta pressão (muitas vezes retratados em pornografia). Como difere muito em cada pessoa, é difícil fornecer dados conclusivos.
O squirt é só xixi?
Como faltam dados científicos, não temos evidências suficientes sobre a composição do próprio líquido. Durante muito tempo, investigadores pensavam que a ejaculação feminina era apenas urina, e muitas pessoas ainda acreditam nisso. Alguns especialistas ainda afirmam que a ejaculação feminina é composta principalmente de urina, mas não temos estudos suficientes para dizer com certeza.
Em 2015, um pequeno estudo concluiu que “squirting é essencialmente a emissão involuntária de urina durante a atividade sexual”. Neste estudo, sete mulheres fizeram xixi antes do sexo e, em seguida, tiveram as suas bexigas scaneadas antes e depois do squirt. Os investigadores observaram que a bexiga das mulheres se enchia antes do squirt e que esvaziava logo após. O estudo rapidamente surgiu em manchetes e alguns media foram rápidos em relatar de forma errada o estudo, afirmando que squirt é apenas fazer xixi.
No entanto, o estudo não incluiu apenas sete mulheres, mas também descobriu que cinco das sete mulheres tinham antígenos específicos da próstata (PSAs) no seu squirt. O PSAs é uma enzima produzida pela próstata nos homens e encontrada no sémen, mas geralmente não associada à urina – que é composta por 95% de água e traços de ureia, creatinina e minerais como sódio e potássio.
Uma pesquisa publicada em “Sexuality and Human Rights”, em 1997, mostrou que os PSAs estavam ausentes da urina das mulheres antes da masturbação, mas presentes tanto na urina quanto no líquido ejaculado após a masturbação. Enquanto isso, outras análises científicas mostram que a ureia e a creatinina estavam presentes apenas em níveis muito baixos.
De onde vêm os PSAs na ejaculação feminina? As glândulas de Skene, também conhecidas como glândulas parauretrais, estão localizadas na parede frontal da vagina e drenam o fluído através de dutos na uretra. Por isso, alguns cientistas acreditam que as glândulas de Skene estão envolvidas nos mecanismos de squirt, e libertam um líquido que compõe a ejaculação feminina.
Alguns especialistas acreditam que “squirt” e “ejaculação feminina” são duas coisas diferentes, e os termos não devem ser usados de forma intercambiável. Segundo alguns cientistas, squirt é usado para descrever a emissão de um líquido claro e incolor, proveniente da bexiga e com uma composição semelhante à da urina. A ejaculação feminina, por outro lado, é usada para descrever a liberação de fluído branco leitoso que contém PSAs e se origina das glândulas de Skene.
Independentemente das divergências entre os cientistas, sabemos o que algumas pessoas fazem squirt e outras não, e não sabemos o porquê de isso acontecer. Ainda não está claro se o squirt serve para alguma função biológica além do prazer, mas algumas pesquisas sugerem que pode ser a maneira do corpo prevenir infecções.
Alguns cientistas teorizam que o fluído ejaculatório elimina qualquer bactéria má que suba pela uretra durante a relação sexual, evitando infeções do trato urinário.
Estamos no século XXI, porque ainda não sabemos isto?
O debate sobre squirt e ejaculação feminina é sintomático de uma cultura que falha repetidamente com os corpos femininos. A falta de pesquisa e consenso geral mostra o quão desconfortável a sociedade está com o prazer feminino.
Reduzir a ejaculação feminina a apenas “xixi diluído”, sem investigar, simplifica um processo complexo de prazer feminino, acabando por ser um desserviço.
“Neste momento, não me importo se alguém pensa que é xixi, xixi diluído ou não. Estou cansada de explicar e defender a forma como meu corpo funciona”, diz Lola Jean, educadora sexual e recordista mundial de squirt de volume.
Envergonhar e marginalizar as mulheres pela sua sexualidade é uma longa parte da história humana. Da masturbação ao queefing, se estiver alinhado com o prazer sexual, foi rotulado de anormal nalgum momento – e squirt não é exceção.
“Squirting é uma manifestação física de prazer que não pode ser facilmente falsificada (pelo menos pessoalmente), por isso tornou-se nesse troféu sexual muito procurado. Acho que também existe uma obsessão porque é uma coisa que não tem nada a ver com pénis. O squirt pode ser atingido sem existir penetração, sem orgasmo e esse fenómeno corporal não está relacionado a ninguém, exceto à pessoa que faz squirting. Acho que muitos homens cis estão com dificuldade em se reconciliar com isso. Por fim, squirt (assim como todo sexo relacionado a vulvas) é altamente pesquisado e subfinanciado”, diz Lola Jean.
Em última análise, são necessárias mais pesquisas sobre squirt e ejaculação feminina (que merece a atenção), mas o trabalho real deve ser normalizar essa função perfeitamente saudável e capacitar as mulheres a se sentirem confortáveis nos seus corpos. Exista squirt ou não.
Principais coisas a saber:
-As mulheres também podem ejacular! -Não há nada de errado ou vergonhoso no squirt -Nem todos conseguem fazer squirt -A ejaculação é uma experiência corporal poderosa que há muito tem sido associada ao pénis e à sexualidade masculina. Mas a ejaculação da vulva ou da vagina também pode acontecer — antes, durante, depois ou sem orgasmo. Agora que há uma maior compreensão de que mulheres e pessoas designadas como mulheres no nascimento têm uma sexualidade – que não somos objetos sexuais passivos –, existe mais abertura e consciência sobre a nossa biologia sexual, desejos e apetites. O squirt é apenas uma parte disso.
Squirting, mais formalmente conhecido como ejaculação feminina, é um dos aspetos menos pesquisados e mais controversos do prazer feminino.
Squirting, mais formalmente conhecido como ejaculação feminina, é um dos aspetos menos pesquisados e mais controversos do prazer feminino.
Foi registado na história há mais de 2000 anos como o fenómeno da ejaculação feminina, mas a sua existência é amplamente debatida.
Em 2010, a urologista Joanna Korda e colegas vasculharam traduções de textos literários antigos e encontraram várias referências à ejaculação de fluídos sexuais.
O Kamasutra (escrito em 200–400 dC) fala de “sémen feminino” que “cai continuamente”, enquanto um texto taoísta do século IV, “instruções secretas sobre a câmara de jade”, distingue entre “vagina escorregadia” e “os órgãos genitais transmitem fluído.” Korda e seus co-autores argumentaram que esta última pode ser claramente interpretada como ejaculação feminina.
O que é squirting?
Uma pessoa com vulva emite líquido da uretra (de onde vem o xixi) em resposta à estimulação sexual ou ao orgasmo. O fluído parece água e é incolor e inodoro. Squirting é diferente de lubrificação vaginal ou corrimento (estar “húmido”), que é produzido pelas glândulas de Bartholin e segregado pelas paredes vaginais.
Todos podem fazer squirt?
A Sociedade Internacional de Medicina Sexual relata que 10% a 50% das mulheres ejaculam, mas que “a maioria não está ciente disso porque o fluído geralmente flui de volta para a bexiga em vez de para fora do corpo”. A quantidade de líquido no squirt difere muito de pessoa para pessoa. Pode ser quase imperceptível para fluxos de alta pressão (muitas vezes retratados em pornografia). Como difere muito em cada pessoa, é difícil fornecer dados conclusivos.
O squirt é só xixi?
Como faltam dados científicos, não temos evidências suficientes sobre a composição do próprio líquido. Durante muito tempo, investigadores pensavam que a ejaculação feminina era apenas urina, e muitas pessoas ainda acreditam nisso. Alguns especialistas ainda afirmam que a ejaculação feminina é composta principalmente de urina, mas não temos estudos suficientes para dizer com certeza.
Em 2015, um pequeno estudo concluiu que “squirting é essencialmente a emissão involuntária de urina durante a atividade sexual”. Neste estudo, sete mulheres fizeram xixi antes do sexo e, em seguida, tiveram as suas bexigas scaneadas antes e depois do squirt. Os investigadores observaram que a bexiga das mulheres se enchia antes do squirt e que esvaziava logo após. O estudo rapidamente surgiu em manchetes e alguns media foram rápidos em relatar de forma errada o estudo, afirmando que squirt é apenas fazer xixi.
No entanto, o estudo não incluiu apenas sete mulheres, mas também descobriu que cinco das sete mulheres tinham antígenos específicos da próstata (PSAs) no seu squirt. O PSAs é uma enzima produzida pela próstata nos homens e encontrada no sémen, mas geralmente não associada à urina – que é composta por 95% de água e traços de ureia, creatinina e minerais como sódio e potássio.
Uma pesquisa publicada em “Sexuality and Human Rights”, em 1997, mostrou que os PSAs estavam ausentes da urina das mulheres antes da masturbação, mas presentes tanto na urina quanto no líquido ejaculado após a masturbação. Enquanto isso, outras análises científicas mostram que a ureia e a creatinina estavam presentes apenas em níveis muito baixos.
De onde vêm os PSAs na ejaculação feminina? As glândulas de Skene, também conhecidas como glândulas parauretrais, estão localizadas na parede frontal da vagina e drenam o fluído através de dutos na uretra. Por isso, alguns cientistas acreditam que as glândulas de Skene estão envolvidas nos mecanismos de squirt, e libertam um líquido que compõe a ejaculação feminina.
Alguns especialistas acreditam que “squirt” e “ejaculação feminina” são duas coisas diferentes, e os termos não devem ser usados de forma intercambiável. Segundo alguns cientistas, squirt é usado para descrever a emissão de um líquido claro e incolor, proveniente da bexiga e com uma composição semelhante à da urina. A ejaculação feminina, por outro lado, é usada para descrever a liberação de fluído branco leitoso que contém PSAs e se origina das glândulas de Skene.
Independentemente das divergências entre os cientistas, sabemos o que algumas pessoas fazem squirt e outras não, e não sabemos o porquê de isso acontecer. Ainda não está claro se o squirt serve para alguma função biológica além do prazer, mas algumas pesquisas sugerem que pode ser a maneira do corpo prevenir infecções.
Alguns cientistas teorizam que o fluído ejaculatório elimina qualquer bactéria má que suba pela uretra durante a relação sexual, evitando infeções do trato urinário.
Estamos no século XXI, porque ainda não sabemos isto?
O debate sobre squirt e ejaculação feminina é sintomático de uma cultura que falha repetidamente com os corpos femininos. A falta de pesquisa e consenso geral mostra o quão desconfortável a sociedade está com o prazer feminino.
Reduzir a ejaculação feminina a apenas “xixi diluído”, sem investigar, simplifica um processo complexo de prazer feminino, acabando por ser um desserviço.
“Neste momento, não me importo se alguém pensa que é xixi, xixi diluído ou não. Estou cansada de explicar e defender a forma como meu corpo funciona”, diz Lola Jean, educadora sexual e recordista mundial de squirt de volume.
Envergonhar e marginalizar as mulheres pela sua sexualidade é uma longa parte da história humana. Da masturbação ao queefing, se estiver alinhado com o prazer sexual, foi rotulado de anormal nalgum momento – e squirt não é exceção.
“Squirting é uma manifestação física de prazer que não pode ser facilmente falsificada (pelo menos pessoalmente), por isso tornou-se nesse troféu sexual muito procurado. Acho que também existe uma obsessão porque é uma coisa que não tem nada a ver com pénis. O squirt pode ser atingido sem existir penetração, sem orgasmo e esse fenómeno corporal não está relacionado a ninguém, exceto à pessoa que faz squirting. Acho que muitos homens cis estão com dificuldade em se reconciliar com isso. Por fim, squirt (assim como todo sexo relacionado a vulvas) é altamente pesquisado e subfinanciado”, diz Lola Jean.
Em última análise, são necessárias mais pesquisas sobre squirt e ejaculação feminina (que merece a atenção), mas o trabalho real deve ser normalizar essa função perfeitamente saudável e capacitar as mulheres a se sentirem confortáveis nos seus corpos. Exista squirt ou não.
Principais coisas a saber:
-As mulheres também podem ejacular!
-Não há nada de errado ou vergonhoso no squirt
-Nem todos conseguem fazer squirt
-A ejaculação é uma experiência corporal poderosa que há muito tem sido associada ao pénis e à sexualidade masculina. Mas a ejaculação da vulva ou da vagina também pode acontecer — antes, durante, depois ou sem orgasmo. Agora que há uma maior compreensão de que mulheres e pessoas designadas como mulheres no nascimento têm uma sexualidade – que não somos objetos sexuais passivos –, existe mais abertura e consciência sobre a nossa biologia sexual, desejos e apetites. O squirt é apenas uma parte disso.
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